quarta-feira, 23 de março de 2011

sem saber




Sem saber.
Como pode ser.
O que pode acontecer.
As surpresas que estão ao redor.
O destino que brinca comigo.
A criação de novos sonhos.
A contenção de desejos.
O medo do medo.
A vontade incontida do querer ter.
Sem saber.
Jogando-me onde tiver que ser.
As duvidas por vir.
A vontade maior de quebrar tudo.
Do lado de cá eu sei onde pode impermear.
Onde espaços que não quero que sejam preenchidos.
Cantos escuros que lá escondo tudo.
Talvez com o medo constante de mais um adeus.
E eu não sei,e também não quero.
Só quero agora o agora.
O presente que me fez bem.
O toque me acalmou.
Os olhos que calaram as frustrações.
O toque leve que ofusca minhas decepções.
E sem saber como.
Sem saber onde isso pode dar.
A vontade maior e de arriscar.
Maior que qualquer vontade de correr.
Sem medo de sofrer.
Eu vou ando tiver que ser.
Faço o que tiver que fazer.
Pra provar o novo que vem de você.

o mar perdido...




Nesse mar perdido.
O que mais vejo são pessoas a deriva.
Nadando no mar de diamante.
O perigo eminente.
O mar sedento de novos fantasmas.
Corpos que nunca mais voltaram.
Sem a paz de uma ilha.
Sem um gole do velho rum.
A deriva no seu mar de diamante.
Do olhar triste.
A minha barba grande.
De anos e anos vendo a deriva dos afogados.
Um farol sem condução.
Um barco sem rumo.
Um porto e sua solidão.
Nesse mar longínquo.
Palpável algumas vezes.
Como uma garrafa e um velho recado.
O mapa,a solução já conhecida.
Faço meu velho barco pegar seu leme.
E seguir sua longa e paciente jornada...

sonhos



Eu tive um sonho,alias dois.
Perdidos em vultos.
Imagens sobrepostas,um começo.
Ou o inicio do fim.
Sonhei que tava tudo aqui.
Tudo jogado pelo chão.
Identidades  e pudores.
O rumor da sua ida.
A cor pálida da partida.
O acaso entre os braços.
Heróicos e cansados.
Eu sonhei com isso por inúmeras vezes.
E me perdi na angustia diária.
Apenas depois do sonho o cheiro.
A mesa bagunçada,papéis e tintas.
Sem som sem sol.
O barulho quente da chuva cortante.
Nos telhados os pássaros quietos.
A cama já no chão.
O relógio estourando.
Falando mais do que deveria.
Cobra o fim do sonho.
Cobra caro quando vai embora.
E se vira pesadelo depois.
Algumas coisas são constatações.
Outras um fato.

eu sei...




Eu sei,eu sinto que ainda bate no mesmo ritmo.
No mesmo compasso perdido.
No mesmo contratempo partido.
Os sonhos aos montes ruídos.
O mar leva apenas o mar.
As rochas ficam.
Inquebráveis como lembranças.
Inseparáveis como a fé e a esperança.

Eu sei,eu sinto ainda esta lá o mesmo caminho.
Mesmo que com alguns galhos largados.
O mato alto,a pouca vontade de se perder.
O medo de se esquecer.
Apenas olhos amarelos em meio a essa escuridão.

Uma casa velha em ruínas.
Com dois habitantes em tempos diferentes.
Em vidas que custam a se encontrar.
O tempo que custa a nos levar.
Pra bem longe.
O mais longe que qualquer um pode estar.
Bem alem do horizonte.

adicto

Cava-se em vícios.
Adicto,a necessidade consome.
A mão tremula,o orgulho distante.
O pensamento ofuscado.
Os passos curtos.
Os sonhos rasos.

Cava se na dor diária do não ter.
Se afunda em goles e tragos.
Fugas de se si mesmo.
Para que não se lembre do que lhe faz falta.
Do que lhe tira o sono.
A fome, a dor.
 
Cava se em lembranças que alimentam o insaciável.
O monstro latente,onipresente em seu olhar.
Carrega se de todas as armaduras mais vulneráveis.
Acredita ter ate algum controle.
Ilusão.
A saudade consome...

deichar a porta aberta

Achei ate que conseguiria.
De forma ate heróica em meus sonhos.
Acreditei que manteria.
Minhas velhas conotações.
Ao lado das novas anotações.
Eu que por alguns segundos voei baixo.
Cheguei passar do ponto.
As minhas visões.
Não podem ser suas ilusões.
Minha sanidade posta à prova.
Minha coragem covarde.
Minhas vontades só no fim da tarde.
Minhas pernas bambas.
Meus poemas chulos.
Minha falta de paciência com os burros.
Os mais que eu.
Cifrão ou razão.
Coração ou consolação.
Às vezes desacredito do dito.
O dito pelo não dito.
A estagnação posta no prato.
As orelhas abaixadas como jumentos.
Não os livres.
Mas os que carregam o peso.
O fardo de estarem parados.
As voltas de um pensamento repetitivo.
Um ciclo viciado.
Vicioso o bale do mais fácil.
A convicção de que tudo gira em torno da mesmice.
Do velho bem estar.
Do deixar como esta.
E mais uma vez vejo que o que aprendi.
Não serviu de nada se eu não transmitir.
De forma simples e direta.
Sem perder tempo.
Sem deixar levar o vento.
O mais preciso valor e a troca de conhecimento.
Não a perca com o alheio.

lavoura poetica

A lavoura poética,seca...
Carregada de maus frutos.
Do abandono de tempos.
Do descuido casual.
A fobia lhe carrega mais.
Bem antes de ancestrais.
Eu que nem sei onde foi parar.
As botas, a enxada.
O despreparo já habitual.

Após as ultimas colheitas,sumiu.
Nem mais os espantalhos.
Tão pouco,corvos.
Foram se aos poucos.
Uma velha casa para trás.
Um ponto de partida.
Partido em distintos caminhos.
Eu vi as andorinhas indo para outro verão.
Na minha frente,eu nem percebi.
E quando me dei conta já me perdi....